A alegria do amargo recomeço
Dar uma chance pra si mesmo e reerguer-se das cinzas é um penoso e ardil trabalho.
De repente, assim do nada, as contingências vem com a cara e uma estupidez monstruosa que nos tira o chão, e muitas vezes o que vislumbramos é um abismo que julgamos não ter fundo.
Dependendo da forma que se encontra nossas emoções podemos facilmente ser enganados por nós mesmos, quando super-valorizamos a situação que nos brecou no meio da caminhada, e permitimos que ela fale mais alto despedaçando toda e qualquer sementinha de fé.
Muitos ficam embaraçados e confusos em suas conclusões que perdem completamente a coerência e sensatez; num dado momento parecem estar convencidos de que amanhã será melhor, e um tempo depois está desesperado dando voz novamente ao incômodo, voltando para aquele instante no qual foi surpreendido – se tornam inconstantes.
Procurar respostas, ficar cavando fossos que já foram entupidos, tentando decifrar códigos “hieróglifos”, presos e dependentes de respostas que já estão mais que evidentes, apenas o atrasa a ter uma visão mais simples e óbvia possível; impedindo de exercer sua liberdade em continuar caminhando a despeito de tudo o mais.
São tantos os sinais que a vida vai nos mostrando e que não damos atenção; e quando o resultado disso chega ficamos como desentendidos; e perder tempo para formular respostas é o pior investimento que damos crédito, devemos sim, investir no recomeço e na reconstrução de nosso ser.
Algumas pistas vêm nos dando vislumbres de respostas por um bom tempo até nos acordar com o impacto, outras vêm no exato momento do choque ao qual fomos submetidos, e tantas outras virão ao longo de muito tempo depois, quando a ferida já cessou de sangrar e a cura já se instalou.
O mais essencial do recomeço é avaliar-nos. Enxergar-nos é um desafio visceral, aceitar que houve desatenção, e que algumas atitudes que poderiam ter sido tomadas antes e não foram poderiam ter diminuído o potencial do desgosto – encarar que muitas vezes fomos coniventes e que acabou desembocando e deflagrando num potencial desastroso é complicadíssimo.
A morte muitas e muitas vezes nos pega de surpresa, nos deixa sem respostas e em total desalento, mas a vida não. A vida sempre tem respostas, nós é que ignoramos todas as vezes que não queremos aceitar a realidade. Tapar o sol com a peneira não evita os resultados ruins, apenas os protela. A questão é que andamos nervosos e com pressa tão cegamente dentro de nossa redoma e esquecemos que prudência e sabedoria precisam andar juntas sempre, de mãos dadas conosco.
Mas se fomos abatidos por algo que nos trouxe muita dor, podemos ter certeza de que também será benéfico para nosso caminho existencial. É tropeçando, caindo e levantando. A cada tropeço, mais força e singeleza. A cada aprendizado, mais maduros nos tornamos. A cada oportunidade de crescimento, mais sabedoria, humildade e simplicidade acrescentamos. A cada monstro deflagrado, mais coragem e intrepidez em encará-lo.
Desanimar não é opção, tem tanto a ser desfrutado. A alegria do recomeço é mais apetitosa, de fato sempre terá um sabor de vitória. Voar além dos limites que nem imaginávamos romper, experimentar tantas maravilhas e alegrias a despeito das circunstâncias que nos contrariaram, sofrer uma poda e continuar tendo a oportunidade de crescer dando frutos sadios e saborosos, estendendo nossos galhos frondosos que serão capazes de oferecer sombra e paisagem admirável, é ser surpreendido com um presente gracioso de continuidade – a Vida.
Deniza L. Zucchetti é escritora nas horas vagas e mãe em período integral. Escreve todas as segundas-feiras. Excepcionalmente, hoje, quarta-feira.