Avanço da Covid-19 em Anápolis aumenta drama de famílias que perdem entes sem receber diagnóstico
Demora no resultado dos testes gera dúvida se pacientes estão se contaminando ao conviverem com outros doentes já positivados. Semusa responde
O acelerado aumento de óbitos por Covid-19 em Anápolis tem coincidido com apontamentos de famílias que enterraram entes queridos sem saber se eles contraíram o novo coronavírus, mesmo após semanas de internação em unidades da rede municipal de saúde.
Outra situação de angústia tem sido vivenciada por quem vê parentes sendo hospitalizados nos mesmos locais e sendo colocados juntos aos doentes com Covid-19 mesmo sem a confirmação dos testes, geralmente feitos antes da transferência.
Quando o resultado negativo sai fica a desconfiança se houve a contaminação dentro do ambiente hospitalar e a dúvida de se fazer um velório convencional.
O dilema sofrido recentemente pela família de um professor universitário, que perdeu a avó de 76 anos na última terça-feira (21), chamou a atenção da reportagem.
“Ela estava no meio dos contaminados no Norma Pizzari, tinha pneumonia e a equipe que cuidou dela, que era muito boa e transparente, ficou sem saber como agir. Esperamos por 13 dias pelo resultado e os médicos não sabiam se tratavam a pneumonia ou se davam antibióticos que também poderiam ajudar contra a Covid-19. Ficavam perdidos e não recebiam resposta sobre o teste”, contou.
“Por termos tido contato com ela, a família ficou toda desamparada e precisou fazer teste, que é caro. Ficamos isolados, sem ver até os filhos, por medo de estarmos contaminados. Mesmo estando perto de pessoas doentes, foi um milagre ela não se infectar, mas como o teste deu negativo, ao menos conseguimos fazer o velório”, relatou.
Contaminação
Ao Portal 6, o infectologista Marcelo Daher explicou que a possibilidade de contaminar uma pessoa ao colocá-la em tratamento ao lado de outra que está com o coronavírus é real, mas que é uma ação inevitável para o momento em que existe muita demanda para leitos limitados.
“É uma situação complexa. Ter uma demanda grande por leitos, sem ter isolamento individual, acaba precisando colocar os pacientes juntos. Às vezes, é melhor que não colocar, porque se o paciente ficar esperando também pode morrer por falta de cuidado”, disse.
“Chega um momento da epidemia que não se consegue colocar todo mundo em isolamento. Não é a melhor estratégia, mas o que pode ser feito é colocar os suspeitos juntos, tentando separar dos confirmados”, sustentou.
O que diz a Semusa?
Gestora da crise do novo coronavírus em Anápolis, a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) nega que os internados nas unidades da rede reservadas ao tratamento de pacientes com suspeita ou positivados para Covid-19 estejam juntos.
A versão da pasta, no entanto, vai na contramão do que dizem profissionais que atuam na linha de frente da pandemia – e que conversaram com a reportagem sob a condição de anonimato.
Doentes que vão a óbito e não têm o resultado do exame que confirma a contaminação pelo vírus é uma realidade que a Semusa reconhece, mas atribui a culpa dos atrasos ao Laboratorio de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (LACEN-GO).
A Prefeirtura de Anápolis, no entanto, desde maio, tem convênio com o laboratório do Ânima Centro Hospitalar para fazer o mesmo procedimento. Cinco mil testes foram contratualizados com a unidade particular.
A íntegra dos questionamentos feitos pelo Portal 6 à Semusa podem ser conferidos a seguir.
Nas unidades em que estão esses leitos de UTI e enfermaria, por que os pacientes com suspeita de Covid-19 não estão separados de pacientes já positivados?
Semusa – São separados tanto os leitos de enfermaria quanto de UTI. Além disso, contamos com leitos de isolamento.
Profissionais de saúde ouvidos pela reportagem foram categóricos em dizer que paciente com suspeita, no mesmo ambiente que um infectado, acaba também contraindo o vírus. O que a Semusa tem a dizer a respeito?
Semusa – Não procede. Existe isolamento de corte para suspeitos e confirmados, conforme recomendação da Anvisa.
A reportagem está trabalhando com casos de pessoas que perderam parentes para a Covid-19 e não tiveram o resultado divulgado. Situações , inclusive, em que se passaram mais de duas semanas e o teste não foi apresentado. Por que situações assim estão ocorrendo?
Semusa – Devido a alta demanda, o Lacen tem demorado um pouco mais para divulgar os resultados, mas isso em todo o Estado. Os exames são analisados lá e não depende da Prefeitura.
Ainda sobre essa questão da demora em sair o resultado para famílias de pessoas que já morreram: a Semusa está registrando esses casos em especifico?
Semusa – Sim. Todos os pacientes são notificados e nenhum óbito por Covid é lançado no banco de dados sem a confirmação por meio de exame.
Objetivamente, quantas vezes um paciente com suspeita de Covid-19 é testado enquanto está internado?
Semusa – O paciente é testado, mas a quantidade depende da necessidade avaliada pelo médico.