Moro sempre teve propósito político, afirma Bolsonaro

Ex-juiz da Lava Jato deixou o Governo Federal acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal

Folhapress Folhapress -
Sérgio Moro. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira (8) que o ex-ministro Sergio Moro “sempre teve um propósito político”.

Moro deixou o governo em 2020, acusando o mandatário de tentar interferir na Polícia Federal.

O ex-juiz da Lava Jato planeja se filiar ao Podemos na quarta (10) e sinalizou a aliados que pretende entrar na disputa pelo Palácio do Planalto.

“Você começa a entender um pouco mais as coisas, entender o que eu passei com o ministro Sergio Moro. Ele sempre teve um propósito político, nada contra, mas fazia aquilo de forma camuflada. E ele tinha intenção sim de ir ao Supremo [Tribunal Federal]. Num primeiro momento eu achei justa a intenção dele, depois eu passei a conhecê-lo um pouquinho melhor”, disse Bolsonaro, durante entrevista à Jovem Pan.

A entrevista foi gravada no final de semana, durante visita de Bolsonaro ao Paraná, e transmitida na manhã desta segunda.

“O que eu queria na Polícia Federal? Não é interferir nada, quero interlocução. O então diretor[-geral] da PF [Maurício Valeixo], que era do Paraná, nunca foi falar comigo para apresentar um diretor [regional]”, declarou Bolsonaro.

Nesta segunda, a defesa de Moro acionou o STF (Supremo Tribunal Federal) por não ter sido informada sobre a realização do depoimento de Bolsonaro no inquérito que apura a suspeita de interferência no comando da PF. Para os advogados do ex-ministro da Justiça, a polícia desacatou ordem judicial constante dos autos que lhe assegurava participação no interrogatório e a possibilidade de formular perguntas.

Em outro trecho da entrevista, Bolsonaro argumentou que Moro não aceitou a determinação de trocar dois superintendentes da corporação.

“Começaram os problemas. Eu nunca pedi para [o Moro] me blindar, eu sempre falei para ele: ‘não deixe que me chantageiem'”, afirmou.

Moro abandonou a 13ª Vara de Curitiba para assumir o Ministério da Justiça de Bolsonaro, logo após o segundo turno das eleições de 2018, com a promessa de que teria carta-branca na pasta. Depois de deixar a Esplanada, o principal revés do ex-juiz ocorreu em junho deste ano, quando o STF o declarou parcial no julgamento de Lula no caso do tríplex.

Bolsonaro reafirmou nesta segunda que Moro “tinha um interesse político” durante sua passagem pela pasta da Justiça.

“E o Moro lamentavelmente tinha um interesse político. Como pode uma pessoa abrir mão de 23 anos de magistratura para ser ministro? Sabendo que poderia ser demitido no dia seguinte e jogar tudo aquilo fora. Ele, aos poucos, foi se revelando que tinha um projeto”, declarou.

O presidente repetiu ainda na entrevista o que afirmou em depoimento à PF, de que Moro teria condicionado uma troca no comando da corporação à sua indicação para uma vaga de ministro do STF. O ex-ministro nega.

“Tinha que trocar o Valeixo, ele [Moro] resolveu partir para uma troca comigo. Ele falou: ‘você me indica para Supremo e depois o futuro ministro troca o Valeixo’. Eu falei: ‘pô, Moro, você está de brincadeira. Eu quero trocar o Valeixo por uma falta de interlocução maior entre nós.”

Apesar de apontar propósito político em Moro, Bolsonaro elogiou seu ex-ministro na entrevista. Disse que ele “fez um trabalho bom na Lava Jato” e ajudou a redirecionar o futuro do Brasil”.

Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou no sábado (6), auxiliares de Bolsonaro dizem que a eventual entrada de Moro na corrida eleitoral de 2022 deverá ter impacto sobre a chamada terceira via, mas sem força suficiente para romper a esperada polarização com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Caso participe da corrida eleitoral, Moro vai se somar à lista de possíveis candidatos que tentam romper o protagonismo de Lula e Bolsonaro no próximo pleito.

Fazem parte do grupo Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Rodrigo Pacheco (PSD), entre outros.

Enquanto juiz da Lava Jato, Moro condenou Lula no caso do tríplex do Guarujá.

O ex-presidente ficou preso por 580 dias em Curitiba. Ele foi solto após o STF ter mudado entendimento sobre prisão após segunda instância, determinando que só pode ocorrer após o trânsito em julgado (fim dos recursos).

Em 2021, o STF anulou as condenações proferidas contra Lula pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba.

Meses depois, em uma dura derrota para o ex-juiz, o Supremo declarou Moro parcial na condução do processo.

Diferentes pontos levantados pela defesa de Lula levaram à decisão dos ministros, como condução coercitiva sem prévia intimação para oitiva, interceptações telefônicas do ex-presidente, parentes e advogados antes de adotadas outras medidas investigativas e divulgação de grampos.

A posse de Moro no governo Bolsonaro e os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil também pesaram.

As conversas dos aplicativos de mensagem expuseram a proximidade entre Moro e os procuradores da Lava Jato.

O então juiz indicou testemunha que poderia colaborar nas investigações contra Lula, orientou inclusão de prova contra réu em denúncia do Ministério Público, entre outros elementos explorados pelas defesas dos condenados na Operação Lava Jato.

Moro e os procuradores sempre repetiram que não reconhecem a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contêm ilegalidades.

Na mesma entrevista, Bolsonaro criticou a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no final de outubro, de cassar o deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR) devido à publicação de vídeo no dia das eleições de 2018 em que ele afirma que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas para impedir a votação no então candidato e hoje presidente.

“Eu lamento muito a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de cassar o mandato dele [Francischini] e por tabela de outros parlamentares por uma live que ele começou a fazê-la 12 minutos antes de terminar as eleições de 2018 -não influenciou em nada. É uma medida extremamente exagerada por parte do TSE que tem que ser repudiada por todos nós”, disse Bolsonaro.

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