Bolsonaro sobe o tom após se irritar com STF, Moro e comprovante de vacinação

Irritado, presidente falou palavrões publicamente, reclamou da Anvisa e alterou o tom de voz ao falar do Supremo Tribunal Federal

Folhapress Folhapress -
Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

BRASÍLIA, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Jair Bolsonaro (PL) deu mostras recentes de um comportamento que parecia ter deixado de lado: as reações explosivas.

Irritado, ele falou palavrões publicamente, reclamou da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e subiu o tom contra o STF (Supremo Tribunal Federal).

Auxiliares do Palácio do Planalto dizem que o mandatário se sente pressionado.

Os arroubos, afirmam eles, refletem incômodo com decisões recentes da corte que atingem o governo, a discussão sobre o passaporte da vacinação contra Covid e o avanço do ex-ministro Sergio Moro nas articulações pela campanha presidencial de 2022.

Contudo, os interlocutores ainda não demonstraram preocupação com a possibilidade da volta aos ataques que geraram crise institucional entre os Poderes, com ápice em atos de raiz golpista no feriado de 7 de Setembro.

Eles classificam esses momentos como desabafos do presidente. Dizem que, por mais que Bolsonaro tenha contido explosões nos últimos meses, ele não pode mudar seu jeito.

Dentre os episódios que causaram a fúria do presidente está a ordem de Alexandre de Moraes, ministro do STF, de apurar a conduta do presidente por falsa associação entre a vacinação contra a Covid-19 e o risco de se contrair o vírus da Aids.

Bolsonaro se queixou, durante um discurso em cerimônia no Planalto e durante transmissão semanal nas redes sociais, de idas de oficiais de Justiça à Presidência e mencionou a chance de crise no país.

“Ou todos nós impomos limites para nós mesmos ou pode-se ter crise no Brasil. Apesar de a grande mídia me acusar de provocar, agredir, não tem agressão minha. Estou tomando sete tiros de 62 [calibre], quando dou um [tiro] de 62, estou provocando”, disse o presidente, exaltado, na quinta-feira (9).

Segundo auxiliares, o presidente se sente constantemente provocado pelo STF e diz acreditar que há um movimento do establishment contra ele.

Além disso, o mandatário também teria ficado contrariado com a mudança no controle de fronteiras.

Ele abomina o termo “passaporte da vacina”, mas o governo decidiu cobrar quarentena de cinco dias para não imunizados entrarem no Brasil por voos internacionais.

O repertório de ofensas do chefe do Executivo ficou escancarado em vídeo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando ele disse ao menos 33 palavrões.

Mas o palavrão, segundo interlocutores, é um termômetro para quando o presidente fala em tom de desabafo ou descontrole.

Na semana passada, ao se queixar da recomendação da Anvisa de restrição a entrada de viajantes, disse, sem cerimônias: “De novo, porra?”.

O presidente ainda tem dedicado parte dos discursos para criticar Moro, potencial candidato a presidente pelo Podemos em 2022.

Na semana passada, chamou o adversário de “idiota”, e disse que ele não tem coração ou “gratidão nenhuma, zero”.
Em transmissão em redes sociais, disse que o ex-aliado faz campanha a presidente “na base da mentira”, além de fazer “papel de palhaço”.

Bolsonaro também afirmou que Moro é contra armas e nem sequer sabe torcer por um time de futebol.

Na quarta-feira (8), o presidente fez provocações indiretas a Moraes, quando citou ordem de prisão do ministro a Zé Trovão, caminhoneiro e aliado de Bolsonaro.

“É o que eu disse: ele está no quintal de casa. Será que ele vai entrar? Será que ele vai ter coragem de entrar? Não é um desafio para ele. Quem está avançando é ele, não sou eu”, disse.

Bolsonaro tem repetido que o STF merece ser renovado e que o próximo presidente da República irá indicar dois ministros ao órgão em 2023.

Segundo auxiliares do presidente, os ataques ao “passaporte da vacina” fazem parte da estratégia do governo de reduzir os danos às bandeiras negacionistas de Bolsonaro com as novas regras nas fronteiras.

A ideia é emplacar o discurso de que o governo não impôs um passaporte, pois os não vacinados ainda podem entrar no Brasil, se fizerem quarentena de cinco dias.

O governo vinha ignorando a ideia da Anvisa de cobrar o certificado da vacinação, mas foi encurralado por questionamentos no STF e recomendações do TCU (Tribunal de Contas da União).

Em reunião na terça-feira (7), ministros disseram a Bolsonaro que a decisão não era apenas política, pois havia aumentado a pressão e o risco de o governo ser responsabilizado por omissão.

Prefeitos e governadores também cobraram controle mais rígido das fronteiras. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que o passaporte será adotado no território paulista, caso o governo Bolsonaro não cobre o certificado de vacinação até 15 de dezembro.

Na quinta, Bolsonaro reagiu a Doria: “Teu estado, o cacete, porra. E se não tiver vacinado? E nós todos temos que reagir. E reagir como? Protestando contra isso”, afirmou.

No anúncio à imprensa sobre as novas regras, além de fazer críticas ao passaporte, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, repetiu ideias negacionistas de Bolsonaro.

“Essa questão da vacinação tem dado certo porque respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou há pouco: às vezes é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, disse o ministro.

Bolsonaro vinha ampliando as ameaças golpistas e ataques às instituições até os protestos pró-governo do 7 de Setembro.

No feriado da Independência, apoiadores tomaram ruas de Brasília e São Paulo pedindo impeachment de ministros do Supremo e gritando “eu autorizo”.

Em entrevista à Gazeta do Povo na semana passada, Bolsonaro fez menções aos pedidos. “Está autorizado a fazer o quê? Quais as consequências? Ficaria dois, três dias nos braços do povo. E depois? Problemas externos, internos”, disse o presidente.

“Em 1967, quando explodiu a luta armada no Brasil, poderia ser quase nada perto do que poderia acontecer no Brasil [hoje]. Há uma luta de poder enorme no Brasil. A esquerda torcia para que eu saísse das quatro linhas [da Constituição]”, afirmou.

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