Mais do que falar, devemos perseguir as práticas do respeito
O deputado estadual Arthur do Val fez uma fala criminosa, cretina, condenável sobre todos os aspectos na qual o Brasil e o mundo (é preciso citar que sua postura recebeu destaque no jornal inglês The Guardian) se chocaram com seu conteúdo. Comentar sobre os absurdos ditos pelo ex-youtuber que ganhou fama sob o nome de “Mamã Falei” é repetir o sentimento coletivo de milhões de pessoas.
No entanto, é preciso reforçar que a fala do deputado, ainda que realizada num âmbito privado e supostamente blindado de condutas morais, revela a distância que muitas vezes existe entre o que é apresentado por um agente público e o que ele de fato pensa, o que ele de fato é. Não é preciso um grande exercício de imaginação para atestar que numa entrevista, num discurso na Alesp, o deputado jamais falaria isto. No entanto, em sua intimidade, no bate-papo com os amigos num grupo fechado, mas não secreto, as verdades sobre o pensamento e as impressões do indivíduo se sobressaltassem.
Isto nos traz à primeira reflexão: o que faz alguém ser o que não é perante as câmeras e, principalmente, não conseguir ser o que é diante do público? Incoerências são percalços de todas as personalidades, é próprio da condição humana. Só que neste caso fica claro que o pensamento verdadeiro é o que está na intimidade. Cabe à figura pública bancar um personagem que defende regras morais, preceitos de igualdade e humanidade. Mas, a pergunta é: por que estas ideias não são as que norteiam também a vida privada do autor da fala de tamanhos absurdos?
O que, lamentavelmente, nos traz a segunda reflexão. Muitas das afirmações de integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) são polêmicas. Várias das atitudes de seus representantes que foram eleitos são mais do que isto, denotando uma total desconexão com os desafios e as demandas sociais de diversos grupos organizados. Defendem estratégias e políticas públicas impensáveis para grande parte das sociedades do mundo, e totalmente desconexas com o Brasil. Isto para ficar somente numa seara de debate técnico. Portanto, mais do que se perguntar porque Arthur do Val falou aquilo, devemos nos questionar: como alguém com esta postura conseguiu se conectar com quase meio milhão de paulistas, conquistando espaço outorgado para fazer o debate político?
Responder a esta questão é também encontrar solução para saber porque, numa semana em que celebramos o Dia Internacional da Mulher, ainda convivemos com crimes como o assédio, o feminicídio, os sexismos diversos que, além de serem amplamente relativizados na cultura popular, ainda seguem em expansão como se fossem “normais”?
A nós, pais e mães, homens e mulheres adultos, cabe o questionamento: quais os valores que estamos repassando para melhorar a nossa sociedade no futuro? Mais do que discursos pomposos, o que estamos fazendo com o poder inexorável do exemplo? Já percebemos que mais do que falar, defender ideias, devemos perseguir as práticas do respeito, de defesa das igualdades e buscarmos o que parece ser tão desafiador: sermos aquilo que discursamos.
Amilton Filho é advogado e deputado estadual pelo Solidariedade. Escreve às quintas-feiras. Siga-o no Instagram.
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