China faz lockdown com 30 mortes por Covid diárias para atingir objetivo de Covid Zero

Média móvel é de 22 mil e são contabilizados 50 novos casos por dia

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(Foto: Folhapress)

ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China voltou a restringir e confinar milhões de pessoas em seu território para tentar conter os novos surtos de Covid no país. Com uma média móvel de casos de aproximadamente 22 mil, o governo asiático tenta limitar ao máximo a circulação das pessoas, a fim de atingir o seu objetivo de “Covid zero”.

Com isso, megalópoles como a capital, Pequim, com 21,5 milhões de pessoas, e Xangai, a maior cidade do país, com 25 milhões, impuseram lockdown e rastreamento de contatos para tentar reduzir novos casos e mortes.

Os números, no entanto, podem não ser muito elevados, comparados com a realidade do país: são, em média, 50 novos casos por dia em ambas as cidades. A média móvel de mortes nos últimos sete dias registrada foi de 38.

Porém, a política de controle rígido e testagem em massa acendem um alerta mesmo quando esses números, em uma imensidão de dezenas de milhões de moradores, não parecem tão preocupantes.

Por outro lado, o Brasil possui uma média móvel de casos de 14 mil nos últimos sete dias, e em torno de cem mortes (93 na última quinta, dia 5). Por aqui, as medidas de proteção da pandemia foram quase todas flexibilizadas, à exceção da exigência do passaporte de vacinação para frequentar alguns espaços.

Segundo especialistas, porém, os dois países não podem ser comparados diretamente. Primeiro, pelas divergências políticas –a China é uma ditadura comunista, o Brasil um país democrático presidencialista–, segundo, pelas diferenças culturais entre as duas sociedades.

Terceiro, e mais importante, é a forma de condução durante a pandemia. Desde o início, o governo chinês restringiu a circulação de pessoas e controlou quem entrava e saía do país. Além disso, pessoas com o vírus são monitoradas diariamente, assim como os seus contatos.

Isso fez com que a China reduzisse em poucos meses o número de casos, ganhando tempo até que a primeira vacina contra o vírus estivesse pronta para ser usada na população.

Já no Brasil, as diferentes estratégias adotadas nos estados e municípios culminaram em várias ondas da pandemia, aceleradas em parte pela introdução de novas variantes.

“Desde o início não houve dúvida que a China adotou uma política de eliminar a transmissão, enquanto o Brasil não fez nenhuma medida de controle para isso”, afirma o médico sanitarista e ex-diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Cláudio Maierovitch.

Ele lembra que, embora ainda se buscassem nos primeiros meses da pandemia informações sobre a disseminação do vírus, a estratégia de isolar os casos e tentar retardar o processo de infecção já era conhecida como algo que funciona. “Aqui não tivemos plano, não tem projeção, não tem expectativa”, ressalta.

O mesmo problema é apontado pela epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, Denise Garrett.

“Houve uma diferença muito grande na maneira que os países abordaram a pandemia. E, por mais que não seja comparável a China com o Brasil, podemos comparar o Brasil com outros países que foram bem, como a Nova Zelândia, e tiveram um controle quase total dos casos, e outros que foram mal, como os Estados Unidos”, disse.

Um ponto crítico aqui, diz ela, é que por muito tempo se buscou, de forma até defendida pelo próprio governo, a chamada imunidade de rebanho. “E qual a consequência disso? Tivemos, em um dado momento, mais de mil, 2.000 mortes por dia e agora, com uma média diária de cem, é um patamar que, digamos, torna-se tolerável, embora eu não ache que seja”, afirma.

Porém, Garrett reforça que as políticas de lockdown da China neste momento põem também em risco a vida das pessoas, que, confinadas, não conseguem trabalhar. “É preciso um meio-termo. O lockdown no início da pandemia foi necessário para achatar a curva, ganhar tempo no combate ao vírus. Se houvesse mais empenho dos países, teríamos com certeza reduzido a transmissão do vírus. Mas é uma medida temporária também”, diz.

Outro aspecto considerado é a cobertura vacinal –e, nesse sentido, o Brasil se saiu melhor. Enquanto no país mais de 90% dos idosos possuem esquema primário vacinal completo (duas doses) e, muitos, já receberam as doses de reforço, na China há locais em que menos de 40% dos idosos receberam as duas doses, e a política de reforço lá sofre.

Garrett reforça que, nos casos em que a vacina não impede a infecção e, assim, pode evoluir para casos graves e morte, é essencial manter o uso de máscaras. “Não há mais nenhum questionamento sobre máscaras, elas são eficazes contra o vírus, sem nenhum efeito adverso a não ser o incômodo de quem está usando. E são formas de reduzir a carga viral para, mesmo vacinado, não ser um quadro de Covid grave”, diz.

“Na China eles tiveram muitas falhas em manter altas taxas de vacinação, com dificuldade de manter uma boa cobertura para alguns grupos e isso é um problema por lá, embora eles tenham medidas de controle de circulação do vírus mais eficazes do que nós”, pondera Maierovitch.

Outro problema foi o uso na China, em sua maioria, de vacinas de vírus inativado, que possuem uma proteção menor especialmente nos mais idosos, pondo essa população em risco, lembra a epidemiologista.

Para Maierovitch, falta no Brasil, uma campanha mais a favor da vacinação. “Em todas as epidemias que tivemos a comunicação do governo era muito clara a favor de vacinação, na epidemia de sarampo, na de meningite, ainda nos anos 1970, e nesse aspecto tínhamos diretrizes muito claras. É claro que podemos conviver com cem mortes por dia de Covid, mas é um número ainda muito ruim. Precisamos melhorar os indicadores”, diz.

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