França proíbe termos em inglês comuns em games de documentos oficiais
Decisão veio com justificativa de conservar o idioma pátrio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a justificativa de preservar o idioma pátrio, autoridades da França proibiram funcionários públicos de usarem de forma formal palavras e expressões em inglês que são comuns em jogos de videogame e de computador. As informações são do jornal inglês The Guardian.
As mudanças foram publicadas na edição de terça-feira (31) do Diário Oficial da República Francesa e já estão em vigor. O texto determina que os jargões de origem inglesa sejam banidos, além do vocabulário dos funcionários públicos, de publicações e documentos oficiais.
Os termos “pro-gamer” e “streamer”, por exemplo, agora devem ser substituídos, respectivamente, pelas versões francesas “joueur professionnel” (jogador profissional, em português) e “joueur-animateur en direct” (jogador apresentador ao vivo), aprovadas pelo governo.
A medida se estende também para setores da tecnologia, que devem substituir, por exemplo, o termo “cloud gaming” por “jeu video en nuage” (jogos em nuvem).
Segundo o Ministério da Cultura da França, o setor de videogames está repleto de anglicismos que atuam como uma “barreira ao entendimento” a quem não é familiarizado com o mundo dos jogos.
A pasta informou que especialistas fizeram buscas em sites e revistas de videogame para checar se termos em francês equivalentes às expressões em inglês já existiam. Ao desestimular o uso de palavras e expressões estrangeiras, o governo espera que a população se comunique com mais facilidade.
Especialmente ciosas da cultura e da identidade do país, autoridades francesas demonstram com frequência preocupação para preservar o idioma nativo.
Em fevereiro, a Academia Francesa, uma agência linguística secular, fez um alerta sobre o que chamou de “degradação do idioma que não deve ser vista como inevitável”. Como exemplos, a academia citou o uso no dia a dia das expressões em inglês “big data” e “drive-in”.
Em novembro, a inclusão do pronome “iel” -usado para designar pessoas não binárias, uma junção de “il” e “elle”, pronomes masculino e feminino- na versão online do tradicional dicionário Le Robert despertou intenso debate na imprensa, com muitas figuras políticas se posicionando contra a novidade.
O governo francês se mostrou contra a ideia. O ministro da Educação à época, Jean-Michel Blanquet, resistiu a tentativas de incorporar a linguagem inclusiva no currículo escolar. “A escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa”, escreveu Blanquet no Twitter. Hoje, a pasta é ocupada por Pap Ndiaye, nomeado no novo gabinete do recém-reeleito Emmanuel Macron.
Charles Bimbenet, diretor do Le Robert, disse na ocasião que dicionários incluem muitas palavras que refletem ideias ou tendências sem necessariamente subscrevê-las; e que, uma vez que a palavra “iel” é cada vez mais usada, era útil incluir o verbete.
“A missão do Robert é observar a evolução de uma língua francesa diversa e reportá-la. Definir as palavras que descrevem o mundo nos ajuda a compreendê-lo melhor”, ele escreveu.