Cotado para Economia, Meirelles defende gasto de R$ 50 bi a mais para bancar Auxílio
"Será preciso mais espaço no Orçamento para os programas sociais, com uma excepcionalidade no primeiro ano", afirma
Cotado para assumir a Economia no governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Henrique Meirelles, 77, defende a pacificação do país e gastos extras para pagar o Auxílio Brasil aos mais necessitados no primeiro ano de governo, até que as reformas abram espaço no Orçamento.
Meirelles, que anunciou seu apoio a Lula no primeiro turno em entrevista à Folha, foi presidente do Banco Central durante o governo do petista e ministro da Fazenda na gestão de Michel Temer (MDB).
Ele diz que será preciso gastar R$ 50 bilhões fora do Orçamento para que Lula consiga arcar com o Auxílio Brasil, programa social que será revisto.
Pergunta: Qual sua avaliação sobre o resultado da eleição?
Henrique Meirelles: Muito apertado, mas dentro do previsto. Achava que a diferença seria um pouco maior, mas todo mundo sabia que a diferença seria muito pequena.
P.: Mas o que significa a vitória de Lula nesse momento?
HM: É algo extremamente positivo. Vamos agora pacificar o país, procurar reconstruir. Evidente que temos de ver exatamente como é que vai ser a administração da economia. É muito cedo para olhar isso, mas vamos olhar isso mais à frente. O que importa é que esse resultado vai pacificar.
P.: Acredita que haverá terceiro turno?
HM: Vamos ver como vai ser o pós apuração, a reação dos bolsonaristas. Mas a expectativa é que ocorra o que deveria, o respeito ao resultado das urnas, independente da margem.
P.: O senhor será ministro?
HM: Não conversamos sobre isso.
P.: Houve rumores de que o senhor seria ministro por ter flexibilizado sua opinião sobre mais gastos fora do teto. Foi uma sinalização de que terá esse papel no governo?
HM: Não foi uma sinalização. Só disse o que acho. Será preciso mais espaço [no Orçamento] para os programas sociais, com uma excepcionalidade no primeiro ano para dar tempo [ao governo] para aprovar uma reforma, especialmente a administrativa.
Continuo defendendo que se mantenha a responsabilidade e não se abra as portas [para gastos desenfreados]. É necessário fazer a reforma administrativa primeiro para abrir espaço [para despesas sociais] em 2024. O ano de 2023 será de excepcionalidade.
P.: O senhor falou em um número de R$ 400 bilhões a mais. É isso?
HM: Não. Essa foi uma previsão que circulou no mercado. Estamos agora falando de Auxílio Brasil um pouco acima de R$ 50 bilhões [acima do teto].
Como sempre disse, é preciso assumir o governo, pegar as contas e ver de quanto é o déficit. Não adianta falar demais em cima de um número sem saber como estão, de fato, as contas do governo.
P.: Lula precisa anunciar logo o ministro da Fazenda?
HM: Não tem pressa. Ele tem que olhar com calma e fazer o anúncio no momento dele.
P.: O mercado já precificou a vitória de Lula?
HM: É diferente de 2003 [primeira eleição de Lula]. Agora, está ainda um pouco mais calmo porque já houve a experiência do governo Lula.
P.: O senhor vê algum risco de haver mais estragos à Economia nos últimos meses do governo de Jair Bolsonaro?
HM: Teremos de ver a reação do Congresso. Tem muita coisa para ser aprovada ainda.
P.: Considera que a governabilidade de Lula com os parlamentares recém eleitos será mais complicada?
HM: Lula tem capacidade de liderança e negociação e o centrão sempre negociou. São profissionais da política e não vão radicalizar, pela minha experiência.
P.: Mesmo se não for possível pôr fim ao orçamento secreto?
HM: Terá de haver uma negociação.