O interesse compulsivo pelas telas de aparelhos eletrônicos estão adoecendo e matando nossas crianças. Há 8 meses escrevi nesse espaço sobre excessos no uso de celular. Citei o exemplo de um menino de 13 anos que matou sua mãe, seu irmão de 7 anos e por pouco seu pai também não morreu. Ficou na UTI e sobreviveu. O motivo foi proibí-lo de jogar Free Fire e o anime Naruto.

Aqui em Anápolis fiz a necropsia de um garoto de 10 anos que aceitou o desafio digital de amarrar duas sacolas em sua cabeça e contar alguns segundos. Causa mortis, asfixia.

Voltar ao assunto porque as férias chegaram e o consumo digital está fora de controle, comprometendo de forma devastadora nossas crianças e adolescentes. O tempo em excesso das atividades digitais recreativas está minando pilares do desenvolvimento infantil como:

a) As interações humanas: quanto mais tempo, menos relacionamento. Isso vale também para os pais que estão imersos no mundo digital e não soltam aparelho de celular sequer para ir ao banheiro. Estão presentes, mas não disponíveis.

b) A linguagem: ação contínua das telas atrapalham a comunicação e a escrita. Para desenvolver isso, criança não precisa de vídeos. Ela precisa de interação e que falem com elas. Que sejam estimuladas ao ouvir histórias e fazer leituras.

c) A concentração: aqui está um desastre. A Neurociência já provou que está relacionada principalmente a Dopamina. A indústria digital já sabe disso. Sabem quais vídeos e jogos produzir para ativar os gatilhos de Dopamina em nossas crianças. O “hormônio da felicidade” que provoca a sensação de prazer e satisfação. A ausência dessa substância altera o comportamento.

É por isso que o impacto do mal uso está levando a ansiedade, anedonia, depressão e a uma “doença nova” chamada ”DEMÊNCIA DIGITAL”. Isso evolui ainda a agressão, raiva e fúria de morte como o exemplo citado no início.

Quero deixar três dicas:

1) Estabeleçam limites de tempo e coloque regras de uso como: não usar telas antes de dormir ou durante os deveres de casa. Não disponibilizem eletrônicos nos quartos;

2) Atentem sobre esse assunto. Sugiro livros como Demência Digital (Dr Manfred Spitzer) e A Fábrica de Cretinos Digitais (Michel Desmurget). E também vídeos noYoutube como Cocaína Digital (Brad Huddleston);

3) Cuidem dessa geração digital. Estão muito dispostos a conteúdo de riscos. Eles agradeceram no futuro.

É isso.

José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo MDB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.