Conheça Leodegária de Jesus, uma escritora e jornalista negra goiana
Ela nasceu em Caldas Novas um ano depois da abolição e a cem dias da Proclamação da República
Dia 13 de maio celebra a abolição da escravatura e, para não deixar uma data tão significativa passar em branco, o Portal 6 resgatou a história de Leodegária de Jesus, escritora e jornalista negra que desbravou os primeiros momentos pós-abolição em Goiás.
Filha de um professor, também negro, órfão e criado em seminários e instituições religiosas, ela nasceu em Caldas Novas, no dia 08 de agosto de 1889, um ano depois da abolição da escravatura e a cem dias da Proclamação da República.
Graças à educação recebida do pai, começou a escrever aos 14 anos de idade, sob o pseudônimo de passarinho, por gostar muito de escalar árvores e se sentar nos galhos mais altos.
Desde pequena foi proeminente nos estudos e na escrita, mas ao tentar ingressar no tradicional Centro de Ensino Lyceu, em Villas Boas, local que se tornaria a cidade de Goiás, foi impedida por motivos pessoais, tanto pelas origens que tinha quanto pelo posicionamento político do pai.
Contudo, a afirmação emitida foi de que ela não havia sido aprovada. Não conformado, o genitor acionou uma comissão do Governo Federal (GF), que apontou o desempenho dela como brilhante.
Apesar do esforço, ela não conseguiu realizar o desejo, e como prêmio de consolação foi convidada ao Grêmio Literário Goiano, de onde conseguiu mais acesso ao meio cultural do estado.
Publicou seu primeiro livro aos 17 anos, o chamado “Coroa de lírios” (1906), que constrói um cenário romântico do Cerrado e das relações sociais em prosa parnasiana. Após o começo efervescente, acabou se frustrando pela perda de um amor e pela mudança de cidade.
Foi para Araguari, em Minas Gerais, onde o pai teve complicações que resultaram em cegueira. Ela tinha três irmãs, mas acabou se tornando a provedora da casa, dando aulas, escrevendo para jornais e costurando à noite.
Leodegária de Jesus foi o exemplo vivo da visão remanescente do escravismo, no qual corpo de uma mulher negra não dispõe de tempo de descanso. Se fechou em si, em depressão, e apenas voltou a escrever mais de 20 anos depois, na obra Orquídeas (1928).