Anápolis está ficando para trás, mas pode pegar o próximo trem para viver novo ciclo econômico
Economistas ouvidos pelo Portal 6 apontam falta de políticas públicas que interditaram o desenvolvimento do município, mas destacam a resiliência econômica e nova oportunidade à vista
Onde estamos e para onde vamos? A pergunta diz respeito à uma cidade considerada acolhedora e que já foi reconhecida como a Manchester goiana.
Apesar de carregar o título de segunda maior economia do estado, a sensação é de que a falta de políticas públicas eficientes e contínuas fizeram com que Anápolis ‘tenha deixado o cavalo passar arriado’.
Ao completar 116 anos no próximo dia 31, especialistas acreditam que a cidade se acomodou após viver o auge do desenvolvimento nos anos 2000 – quando o polo farmoquímico foi tomando corpo no Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA) por meio dos incentivos fiscais e a produção dos medicamentos genéricos.
Nos últimos 20 anos, pôde contar nos dedos as indústrias de grande porte que se instalaram na cidade. De memória, a CAOA Montadora, em 2007.
Com esse histórico de pouco apetite ou inércia dos agentes públicos, pelo menos para Anápolis, confrontar a quebra dos incentivos fiscais como defende o texto da Reforma Tributária, soa quase demagoga.
“O DAIA se tornou pequeno e os agentes públicos não souberam resolver a questão para instalação de novos empreendimentos”, reforça o economista Márcio Dourado.
O professor da UniEVANGÉLICA ressalta ainda outros fatores de infraestrutura que corroboram com esse cenário: falta de estrutura energética, água, capacitação profissional ou disponibilidade de pessoal.
Para muitos, uma pulga atrás da orelha pode ser o Produto Interno Bruto (PIB), que continua crescendo praticamente ano a ano. Para se ter ideia, 2020 bateu a casa de R$ 15,2 bilhões ante R$ 14, 7 bilhões em 2019 – conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Entretanto, os números camuflam ‘dinheiro novo’. Na prática, são resultados, em boa parte, do incremento das indústrias farmacêuticas já instaladas – advindas tanto do envelhecimento da população (aumento nas vendas) quanto da variação cambial.
Novos tempos
O crescimento em números e empreendimentos imobiliários, por exemplo, aponta outra característica da cidade: a resiliência. “Anápolis, mesmo ao lado de duas capitais, nunca foi dependente”, relembra o professor Márcio Dourado.
Para ele, é possível que o município tenha ‘perdido o bonde da história, mas pode pegar o próximo trem’.
A analogia é quase literal. Márcio acredita que desenvolver políticas públicas para pegar carona na potência da ferrovia seja um caminho para a cidade.
“Apesar dos percalços temos um grande potencial a ser explorado pela frente”, destaca.
A economista e professora Eva Cordeiro compartilha da opinião. Ela acredita que, ao longo da história, faltaram políticas públicas perenes – de médio e longo prazo. Agora, é tentar reverter esse quadro.
“Temos um espaçamento até a Reforma Tributária entrar totalmente em vigor, mas é preciso que haja planejamento de toda a sociedade para termos planos B e C”, enfatiza.
Eva ressalta que as cidades são dinâmicas e precisam colocar lupa nas próprias vocações ou, até mesmo, criar outras. Conforme estudo, diz, são 22 cidades onde Anápolis é considerada ‘a capital’. Outro dado revelado por ela é que pelo menos 11 mil pessoas vão à cidade diariamente para compras, consultas e estudar.
“Podemos ser um grande centro de saúde para regiões do Norte e cidades circunvizinhas. Temos mais de 3 mil pequenas confecções onde não há incentivo e podemos nos tornar uma smart city, como Aparecida de Goiânia está trabalhando”, pontua.
Para os especialistas, as possibilidades existem, não são poucas, mas é preciso colocar a ‘mão da massa’, fazer planejamento e, sobretudo, a união entre a sociedade civil organizada e poderes públicos: estadual e municipal.