Quem é Vivek Ramaswamy, a versão millennial de Trump, mas sem ficha na polícia
Filho de imigrantes indianos conseguiu chamar a atenção no primeiro debate das primárias do partido, na última quarta-feira (23)
FERNANDA PERRIN – WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Jovem, carismático, não branco e com um nome esquisito. Há 20 anos, assim era descrito Barack Obama. Outsider, midiático, conservador controverso. Há 10 anos, este era Donald Trump.
De algum modo, o pré-candidato republicano à Presidência americana Vivek Ramaswamy, 38, conseguiu -muito conscientemente- juntar esses dois extremos em uma só persona.
O filho de imigrantes indianos conseguiu chamar a atenção no primeiro debate das primárias do partido, na última quarta-feira (23). No Google, seu nome o foi mais buscado durante o programa. No X, ex-Twitter, Elon Musk descreveu a performance como “impressionante”.
Negar o aquecimento global, defender que existem apenas dois gêneros e dizer que existe uma crise de famílias sem pais porque o governo paga benefícios a mães solteiras foram alguns dos seus pontos altos no embate -além de entrar em vários confrontos acalorados com seus colegas de palco.
Para analistas, Ramaswamy foi quem melhor encarnou Trump, na ausência do ex-presidente.
Desde janeiro, o pré-candidato foi de virtualmente zero a 9,9% das intenções de voto nas primárias, segundo o agregador de pesquisas do FiveThirtyEight. Isso o coloca em terceiro lugar na disputa, à frente do ex-vice-presidente Mike Pence (4,1%) e não muito atrás do governador da Flórida, Ron DeSantis (14,7%).
Embora a preferência por Trump (52%) supere com folga o apoio a todos eles, os quatro processos criminais nas costas do magnata colocam em dúvida sua viabilidade eleitoral, pensando na disputa nacional, e mesmo legal -ninguém ainda sabe muito bem o que acontece se ele for condenado e eleito.
Mas e se fosse possível enfrentar o democrata (e visivelmente envelhecido) Joe Biden com uma versão millennial e sem ficha na polícia?
Ramaswamy começou a ganhar projeção nos últimos dois anos criticando a adesão de empresas a causas sociais e políticas. Em 2021, ele lançou o best-seller “Woke, Inc.: Por Dentro do Golpe de Justiça Social da América Corporativa”.
Ele defende que empresas não devem abraçar bandeiras como diversidade e proteção do meio ambiente porque não cabe a elas fazer o julgamento moral necessário para definir quais valores sociais devem ser perseguidos. Essa tarefa, argumenta, deve ser desempenhada apenas por representantes democraticamente eleitos. Aos negócios cabe fazer dinheiro. E ponto.
Como empresário, ele teria se negado, por exemplo, a divulgar um posicionamento sobre o assassinato de George Floyd, que desencadeou uma onda protestos antirracistas nos Estados Unidos e mundo afora.
O ativismo antiativista vem pelo menos desde a época da faculdade. Quando estudava biologia em Harvard, Ramaswamy publicou um artigo no Crimson, o jornal universitário, contra uma campanha estudantil que exigia aumento de salário dos funcionários da instituição, como faxineiros e zeladores. Em argumentação tortuosa, ele afirmou que o reajuste reduziria o respeito da comunidade por essas pessoas.
Mas a fama do aluno na faculdade foi além de seus artigos de opinião: ele também era rapper. Sob o alter-ego de “Da Vek”, ele cantava versos libertários e covers de Eminem.
Os pais de Ramaswamy migraram da Índia para Ohio, no centro-este do país, onde Ramaswamy nasceu e foi criado. O pai trabalhou como engenheiro na General Electric e a mãe, como psiquiatra geriátrica.
Ele atribui a origem de seu pensamento conservador a uma professora de piano que teve nessa época. Segundo Ramaswamy, foi ela quem lhe apresentou as ideias de Ronald Reagan. Além da música e de Reagan, seu grande interesse nessa época foi o tênis -ele chegou a entrar no ranking nacional do esporte.
Depois de Harvard, Ramaswamy trabalhou alguns anos em uma gestora de investimentos e, ao mesmo tempo, graduou-se em direito em Yale. O grande passo da sua carreira, no entanto, veio com a fundação de uma empresa de biotecnologia chamada Roivant, em 2014.
Ao perceber que muitas farmacêuticas suspendiam o desenvolvimento de novos medicamentos devido a dificuldades burocráticas ou por perda de interesse comercial, ele criou um negócio para adquirir esses produtos, terminar a certificação e, ao final, dividir parte dos lucros com os criadores da ideia.
Uma dessas drogas foi um remédio contra o mal de Alzheimer. Em 2016, a Axovant, subsidiária da Roivant encarregada de terminar seu desenvolvimento, conseguiu o que até então era a maior abertura de capital de uma biotech da história -o investimento, porém, acabou se revelando um fracasso, porque o medicamento não passou da fase de testes.
A empresa, no entanto, foi bem-sucedida em outras empreitadas, o que rendeu a Ramaswamy uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 630 milhões (mais de R$ 3 bilhões, na cotação atual).
Hoje, ele não faz mais parte do quadro da Roivant -que destaca em seu mais recente relatório anual “cultivar diversidade e inclusão” por meio de grupos de funcionários de mulheres, pessoas LGBTQIA+ e negros, indígenas e não brancos.
No ano passado, Ramaswamy fundou uma gestora de ativos cuja proposta é investir “em excelência”, sem quaisquer outras preocupações. Apesar da promessa, alguns dos fundos da Strive são claramente uma posição política: o código do ETF voltado para energia é DRLL (“drill”, em inglês, significa “perfurar”, em alusão à exploração de petróleo).
Outro fundo da gestora é voltado para mercados emergentes, menos a China. O Brasil está na lista, com 7,9% de participação. Petrobras, Vale, Ambev e Banco do Brasil estão entre as empresas no portfólio.
Ramaswamy se guia por uma espécie de dez mandamentos: “Deus é real”, “existem apenas dois gêneros” e “desenvolvimento da humanidade demanda combustíveis fósseis” são os três primeiros.
Se eleito presidente, ele promete acabar com ações afirmativas, com o Departamento de Educação, com o FBI e com a Receita Federal; promete ainda banir o uso de rede sociais viciantes para menores de 16 anos, “abandonar a seita do clima” e investir em energia nuclear e proibir empresas americanas de se expandirem para a China até o país asiático “parar de trapacear”.
“Eu me considero um contrariador. Gosto de discutir”, disse Ramaswamy, quando estudante, ao Crimson.