Vamos ao cinema: “Mulher Maravilha”, o filme que a heroína merece!

Carlos Henrique Carlos Henrique -

Diana, a Mulher Maravilha, filha da amazona Hipólita, surgiu nos quadrinhos da DC Comics em 1941. De lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive suas origens. Nos quadrinhos mais recentes, e também no filme que acaba de ser lançado, Diana seria filha de Zeus com Hipólita, como uma arma para destruir outro filho de Zeus, Ares, o Deus da Guerra. Diana surge bem no ápice da independência feminina e foi de secretária a curadora de museu. Porém, a personalidade forte da personagem, que nunca precisou de um príncipe para salvá-la, nunca mudou.

William Moulton Marston, o criador de Diana,  que é psicólogo, ajudou a criar o detector de mentiras, e faz parte dos criadores originais da DC. Quando ele foi convidado a criar seu próprio personagem, Surgiu a Mulher Maravilha, que foi fruto de certa pressão de sua esposa. Marston, era bem progressista, e entre outras coisas, ele defendia direitos iguais para homens e mulheres, e o poliamor. Ele possuía duas esposas, e usou as características das duas para compor sua personagem. A sua criação também estava presente, afinal qualquer relação entre o laço da verdade e o detector de mentiras não é mera coincidência.

O mundo dos quadrinhos era dominando, até então, por personagens homens. Além disso, as duas Grandes Guerras, inspiravam o heroísmo de soldados, homens em sua maioria. Porém, esse mesmo cenário de guerra abria espaço para as mulheres, que agora se tornavam a força de trabalho e precisavam sair de casa, para sustentar os filhos, cujos pais estavam nos campos de batalha. Isso influenciou inclusive o início da personagem, que começou ajudando homens a vencerem a guerra contra Hitler.

A caminhada foi longa até que Diana mostrasse seu valor, e deixasse claro que chuta bundas melhor do que muitos personagens “machos” do universo DC, que tiveram muito mais espaço que a amazona na Grande Tela. Foram quase 80 anos de quadrinhos e apenas uma série de TV na década de setenta, para que a personagem ganhasse finalmente o espaço que merece no Cinema. A estreia veio pelas mãos da talentosa diretora Patty Jenkins que conseguiu extrair de Gal Gadot toda a força e feminilidade que são características inerentes da amazona. Gadot ralou bastante para mostrar que merecia empunhar o laço da verdade, e seu currículo é extremamente modesto: ela é ex-modelo e ex-recruta do Exército de Israel, além disso, ela quase concluiu a faculdade de Direito.

Mas, voltemos ao filme, que acontece antes dos quadrinhos, ainda na Primeira Guerra. A história começa já na ilha de Themyscira, um reduto criado por Zeus para que as amazonas ficassem longe dos Homens, treinando para a batalha final com Ares. Diana ainda criança fazia de tudo para poder treinar como guerreira. Sua mãe, lhe conta então que ela não precisa lutar, já que as amazonas estão em tempos de paz. Diana cresce, sem saber a verdade sobre sua origem, e mesmo contra a vontade de Hipólita, se torna uma das guerreiras mais poderosas da ilha.

Steve Trevor, um piloto que estava espionando instalações alemãs cai na ilha das amazonas enquanto foge dos soldados inimigos após ser descoberto. Diana salva sua vida, e a paz de Themyscira acaba com a chegada dos alemães que atacam Steve e suas novas “amigas”. O piloto diz que precisa voltar para a Inglaterra, para mostrar os planos roubados e acabar com a guerra. Diana, que se preparou durante a vida toda para vencer Ares, acredita que a guerra que Steve está combatendo é culpa dele, e vai junto com o piloto para o Continente.

A inocência de Diana contrasta com o ceticismo de Trevor, mas não confunda essa inocência com dependência ou mesmo coitadismo. Mulher Maravilha é uma guerreira, e não hesita em entrar em uma batalha. As cenas de batalha, inclusive são muito bem balanceadas com a história, e não parecem forçadas. A história é outro ponto forte do filme. O desenvolvimento e crescimento emocional de Diana é bem construído e nos leva a caminhar ao seu lado. Em nenhum momento a trama diminui a personagem ou a coloca abaixo dos homens na trama. Muito pelo contrário, é ela quem salva a pele dos marmanjos por diversas vezes. Cabe a eles, inclusive, a responsabilidade de serem os alívios cômicos.

Em tempos de deputados que dizem que mulher deveria ganhar menos por ser mulher, e de nerds que perseguem meninas que jogam videogame, um filme como esse é mais que necessário. Nossas crianças precisam reaprender que meninos não são melhores que meninas e que toda menina pode ser uma guerreira independente, que não precisa de homens para salvá-las. Não que o filme seja um manifesto feminista, ele está longe disso. Mulher Maravilha é apenas um filme pipoca divertido, com o extra de não reforçar esteriótipos de gênero que estão voltando do século passado com tudo.

Sim, o filme é o mais divertido de todos os já realizados com personagens da DC, e isso é um baita elogio. A aura dark de Zack Snyder não aparece aqui, mesmo ele sendo um dos produtores e roteiristas, e talvez esse seja o melhor ponto do filme. Não que ele não tenha deixado suas marcas! O slow motion, característica marcante do diretor e que está presente em todos os outros filmes também estão aqui, mas sem exageros. Não que os outros sejam ruins mas, Mulher Maravilha não precisa ser outro Batman vs Superman e nem tem essa pretensão.

Patty Jenkins merece o reconhecimento que está colhendo. O filme teve a maior bilheteria da história entre filmes dirigidos por mulheres. Foram mais de U$ 100 milhões em apenas três dias, apenas nos EUA e outros U$ 122 milhões no resto do mundo. Além disso, foi o primeiro filme de super-heróis em que o público masculino não foi maioria, representando 48% dos ingressos.

A diretora dosa bem os dramas, e apesar de algumas lágrimas insistirem em rolar, o filme não é pesado e nem quer ser nenhum ícone do cinema cult, com questionamentos filosóficos intrincados. Mulher Maravilha é o que todo filme de super herói deveria ser: divertido, dosando bem humor e drama, e contando com esmero as histórias que crescemos imaginando ao ler quadrinhos. Corra para o cinema, o ingresso vale a pena!

 

NOTA: 6/6

Ficha Técnica

Duração: 141 minutos.
Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Danny Huston, David Thewlis, Connie Nielsen, Elena Anaya

Bruno Rodrigues Ferreira é jornalista, psicólogo e especialista em Tecnologia e Educação e Gestão em Saúde.
Twitter: @ferreirabrod

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