Dar as costas para a política não é a saída
De um lado, um homem que chegou a ser condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, após passar por um dos maiores desgastes de imagem da nossa história recente. Do outro, um governante que apresenta grandes dificuldades em lidar com uma pandemia e a crise econômica e vê sua popularidade cair dia a dia. E ainda assim, ambos são, atualmente, os preferidos dos eleitores para nos governar. Estou falando do ex-presidente Lula e do atual presidente, Jair Bolsonaro, no contexto da última rodada da pesquisa PoderData, publicada no dia 14 de abril.
O levantamento coloca os dois quase empatados nas intenções de voto para a disputa eleitoral de 2022, anos luz à frente dos demais oponentes. Na simulação do 1º turno, Lula teria, segundo o PoderData, 34% das intenções de voto, contra 30% de Bolsonaro. Ciro Gomes e Luciano Huck aparecem na terceira colocação com apenas 6%. Em seguida vem João Amoêdo (5%), João Dória (4%) e Sérgio Moro (3%). Pesquisa e candidatos à parte, essa projeção, já captada por outros institutos, aponta um fenômeno mais complexo: a dificuldade de emergir novas lideranças políticas no Brasil.
Em tese, um cenário com líderes tão desgastados deveria ser campo fértil para novos nomes despontarem. Mas não é assim que funciona na prática e vemos o Brasil de hoje disposto a repetir o mesmo debate das eleições passadas. Isto é fruto de uma polarização política tão radical que faz o debate descambar para o irracional em diversos momentos, deixando a lógica de lado e também ocupando quase todo o espaço de discussão. É também um reflexo do desinteresse generalizado do brasileiro pela política, que não estimula as pessoas a prestarem atenção em novas possibilidades.
E temos aí um paradoxo: todos concordam que é preciso formar urgentemente novas lideranças para oxigenar a política, caso contrário teremos dificuldades de fazer o Brasil avançar; mas há pouca disposição da população de participar ou de acompanhar o debate até mesmo no papel de espectador. Só que a chave para um avanço passa por uma maior presença popular, não tem outro caminho.
Acredito muito que profissionais liberais, empresários, sindicalistas, estudantes, etc. têm que se integrar ativamente ao processo político e participar das suas instâncias decisórias. Não necessariamente disputando eleições, até porque uma candidatura sólida é justamente aquela que é precedida por um trabalho consistente dentro de um partido e junto à sociedade, mas pelo menos buscar conhecer com maior profundidade as lideranças e discutir os projetos que são apresentados.
Os espaços do debate público precisam ser ocupados pelas pessoas qualificadas e bem intencionadas, que têm condições de discutir em alto nível nosso futuro, apresentando novas visões e soluções sobre velhos problemas. Isto hoje é mais fácil com as tecnologias da comunicação, mas é necessário haver uma organização e propósitos claros para que não se caia somente no improdutivo bate-boca de teses vazias e bandeiras desbotadas, como o que domina hoje as redes sociais.
Quando me propus a entrar para a atividade política, teve quem achasse que eu estava até brincando, tão distante minha vida era desse mundo. Fui em frente e sigo buscando pessoas que possam agregar nessa caminhada. Hoje enxergo que o maior desafio dos dirigentes partidários é justamente trazer novas cabeças e conceitos para perto dos partidos. O esforço para quem compartilha desse ideal de transformação deve ser justamente o de convencer as pessoas de que, com os mesmos nomes e, principalmente, as mesmas práticas, não há mudança de verdade.
Márcio Corrêa é empresário e odontólogo. Preside o Diretório Municipal do MDB em Anápolis. Escreve todas as segundas-feiras.