Essa cidade do Brasil terá vacinação em massa para testar eficácia contra a Covid-19

Pessoas entre 18 e 65 anos receberão o imunizante

Folhapress Folhapress -
(Foto: Prefeitura de Botucatu/Divulgação)

Ana Bottallo, de SP – A cidade de Botucatu (a 237 km da capital), no interior do estado de São Paulo, sediará um novo estudo para avaliar a efetividade das vacinas contra a Covid-19, isto é, qual sua eficácia quando utilizada em massa na população, como foi feito em Serrana pelo Instituto Butantan.

A novidade agora é que será testada a vacina da Oxford/AstraZeneca. A estimativa é de que cerca de 80 mil pessoas entre 18 e 65 anos recebam o imunizante e sejam avaliadas por um período de oito meses.

O estudo de fase 4 é uma parceria do Ministério da Saúde, da Unesp (Universidade Estadual Paulista; campus Botucatu), da Prefeitura de Botucatu, da Universidade de Oxford e da Fundação Bill e Melinda Gates.

Além de verificar a capacidade da vacina em reduzir casos, internações e óbitos por Covid-19, o projeto pretende também avaliar sua eficácia contra as novas variantes do coronavírus em circulação no estado.

“Cem por cento dos casos notificados durante o estudo serão sequenciados para identificar as variantes responsáveis pela infecção. Também é algo inédito porque serão realmente sequenciadas todas as amostras do vírus, não apenas uma proporção, inclusive poderemos ver novas variantes que surgirem”, explica Carlos Magno Fortaleza, professor de Moléstias Infecciosas na Unesp e coordenador do estudo.

Levantamento feito pela própria universidade aponta a variante P.1 como dominante na região de Botucatu, diz o epidemiologista.

A vacina da Oxford/AstraZeneca é uma das duas vacinas atualmente em uso no país, e recebeu a aprovação para uso emergencial pela Anvisa em janeiro. Sua eficácia, divulgada a partir de estudos clínicos conduzidos no Brasil, Reino Unido e África do Sul, foi de 70%.

Mas essa taxa, calculada após a avaliação de dezenas de milhares de pessoas que recebem a vacina em comparação às que receberam um composto inócuo (placebo), é diferente da efetividade da mesma quando usada na população como um todo.

Isso ocorre porque os perfis de idade, exposição e históricos dos participantes de um estudo nem sempre correspondem ao observado na população.

“O estudo é feito com condições muito ideais. A vida real tem vários outros fatores, por isso os estudos de efetividade [ou de fase 4] são muito importantes, como o que está sendo feito em Serrana com a Coronavac também é importante.”

Por se tratar de um município de pequeno porte do interior do estado, mas com uma capacidade laboratorial forte devido à presença da Unesp, Botucatu é o palco perfeito para esse estudo, avalia Fortaleza.

Desde abril, a universidade paulista tem centralizado todos os exames RT-PCR feitos na cidade e dos pacientes de outros municípios atendidos que buscam atendimento no Hospital das Clínicas de Botucatu. A possibilidade de gerar uma resposta rápida para os casos identificados é um dos pontos-chave do estudo.

Além disso, a cidade conta com uma rede de saúde eficiente, pronta para agir rapidamente e aplicar as doses em toda a população elegível e que quiser participar do estudo. “É voluntário, ninguém será obrigado a participar, mas temos uma tradição de cobertura vacinal na cidade. Em 2009, conseguimos em duas semanas vacinar toda a população contra febre amarela”, diz.

O amplo apoio político do prefeito, Mário Pardini (PSDB), também foi um fator determinante para conseguir a aprovação do projeto.

A ideia do projeto partiu por uma iniciativa do prefeito de comprar vacinas para imunizar toda a sua população, que acabaram não se firmando. Fortaleza conversou, então, com a pesquisadora da Unifesp Lily Yin Weckx, que coordenou os ensaios clínicos da Oxford/AstraZeneca no país. A partir daí, a parceria foi firmada diretamente com a universidade de Oxford. O apoio financeiro é da Fundação Bill e Melinda Gates.

O desenho da pesquisa será do tipo caso-controle com teste negativo. Funciona assim: se, antes da vacinação, Botucatu tinha um número x casos de Covid-19, após a vacinação em massa terá y. A diferença entre esses dois números será usada para calcular a efetividade da vacina. Além disso, será feita a comparação com um município que não recebeu a vacinação em massa (caso-controle).

O estudo clínico de fase 4 também irá permitir comparar como a vacinação em massa em um município se comporta em relação aos outros municípios da região. “Não estamos privilegiando uma cidade em detrimento das outras, mas é uma necessidade que temos de ver como é o impacto da vacina na vida real. Esse conhecimento vai favorecer todos os brasileiros.”

A pesquisa foi aprovada na última terça-feira (27) pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) e deve começar nas primeiras semanas de maio, assim que o Ministério da Saúde disponibilizar as doses para o estudo.

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