Eu, Bruno Covas e a velocidade da vida
O falecimento do prefeito Bruno Covas me deixou pensativo nos últimos dias. Tenho certeza que todos os jovens políticos também pensaram. É sobre o sentido da vida e o que fazemos dela. Sobre sua brevidade, velocidade e necessidade de aproveitar todos os momentos. Sobre o olhar para o mundo e o sentido das coisas que fazemos ou não fazemos.
Ser vereador não é tarefa fácil. Mantenho contato direto com mais de duas mil pessoas e falo com a maioria delas semanalmente. Dezenas de pessoas dependem direta ou indiretamente da nossa atuação e envolvimento. Sim, é um bom salário, mas não há hora de descanso, fim de semana ou feriado. Recebo em média 300 mensagens por dia.
Estou feliz, é uma experiência única, transformadora, desafiadora, intensa. Mas é impossível, ao ver a finitude do Bruno, não repensar o que temos feito de nós mesmos e da nossa vida. Principalmente quando se faz política pensando no bem estar das pessoas e não na própria conta bancária.
Sempre soube das minhas potencialidades, aprendi a ler sozinhos aos 3 anos de idade, venci tudo que disputei, colecionei premiações, três concursos públicos, um federal na primeira posição. Ninguém comum lidera processos por onde passa. Fiz uma campanha modesta, sem grandes recursos e muito sustentada pela sociedade civil que acreditou num mandato participativo.
Isso tem um peso e amplia responsabilidade quando se é representante de tanta gente. Há decisões que nos implicam noites sem sono, ausência de fome e desassossego. Há posicionamentos que nos afligem diretamente, somaticamente. Há discursos que são para rasgar e outros para costurar. E Freud já dizia que somos feitos de carne mas vivemos como se fossemos de ferro.
O falecimento do Bruno me implica refletir sobre a finitude de todos nós, dos abraços não dados, dos diálogos travados, das mágoas quase infantis, das competições desmedidas. Da busca pelo sentido da vida, do propósito que nos move. Outro dia dia sepultamos nosso grande mestre/amigo Nelson de Abreu Junior. Jantamos em fevereiro, falamos das coisas, do mundo, dos projetos e do futuro. Costuramos parcerias, e pela irresponsabilidade de um governo que não comprou vacina perdi essa costura. Meu tecido da vida ficou mais pobre.
Meu velho amigo Dom Tomás Balduíno dizia que não havia fome que não fosse sua. Essa frase me marca profundamente, no alcance da empatia de alguém capaz de sofrer com as dores do mundo.
Hoje no fim da tarde uma amiga me perguntou:
– E em 2022, seremos felizes?
E eu sem entender qual era o sentido da pergunta, arrisquei a resposta:
– Ah, eu espero que sim!
Marcos Carvalho é professor, psicólogo e servidor público federal. Atualmente vereador em Anápolis pelo Partido dos Trabalhadores. Escreve todas as terças-feiras. Siga-o no Instagram.
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