Por que o assassinato de jovem de origem brasileira está causando tanta revolta na Espanha

Até agora, a polícia do país identificou sete pessoas como autores do ataque e mais seis que estavam com os agressores

Folhapress Folhapress -
RTVE é a rede de emissoras de rádio e televisão pública da Espanha. (Foto: Captura)

O assassinato de Samuel Muñiz, um jovem gay de origem brasileira que morreu após ser espancado na rua, gerou uma forte onda de protestos contra a homofobia na Espanha. Na segunda (5), houve grandes manifestações em cidades como Madri, Barcelona e Corunha, onde o crime ocorreu.

Samuel, 24, estava perto de uma balada na orla de Corunha, cidade de cerca de 250 mil habitantes na Galícia, noroeste da Espanha, na madrugada de sábado (3). Naquele horário, muitos jovens andam pela cidade para circular entre bares e baladas. Era o segundo fim de semana de reabertura das atrações noturnas no país, após a retirada de restrições para conter a pandemia.

Assistente de enfermagem, Samuel trabalhava em uma residência de idosos na entidade social Padre Rubinos. Filho de um brasileiro, Maxsoud Luiz, e de uma espanhola, ele vivia na Espanha desde os 14 meses de idade, segundo a imprensa espanhola.

Na noite de sexta para sábado, o jovem estava com algumas amigas perto do Playa Club, um bar e balada com vista para o mar. Uma delas pegou o celular para atender uma videochamada, segundo relatos de testemunhas citados pelo jornal La Voz de Galícia. Um homem que passava por ali, junto a um grupo, achou que a jovem com o celular na mão estava gravando imagens deles.

“Pare de gravar se não quer que te mate, puto viado”, ameaçou o agressor, segundo uma testemunha. Samuel teria respondido: “viado de que?”. Em seguida, ele deu um soco em Samuel e o jogou ao chão, mas um jovem de origem africana que estava por perto apartou o ataque.

O agressor se afastou, mas voltou logo depois com outros amigos, que atacaram Samuel novamente, a cerca de 200 metros do local da primeira abordagem. Desta vez, o jovem foi espancado com violência por ao menos sete pessoas, que o encheram de socos e chutes. A surra durou cerca de um minuto e parou quando o grupo percebeu que a vítima não se mexia mais. Equipes de resgate foram chamadas, mas não conseguiram reanimar Samuel, que morreu no hospital.

Na orla onde ocorreu o ataque, perto da praia de Riazor, há diversos prédios residenciais, o estádio de futebol do Deportivo La Coruña, alguns comércios e muitas câmeras, que registraram a segunda parte da agressão.

Até agora, a polícia identificou sete pessoas como autores do ataque, e mais seis que estavam com os agressores, mas não se envolveram no ato. Três acusados foram presos até agora. A polícia não revelou seus nomes, mas disse que eles têm idade entre 20 e 25 anos e eram moradores de Corunha.

As autoridades ainda investigam se o caso foi motivado por homofobia. O caso gerou uma onda de revolta contra a violência e o preconceito a LGBTs. Uma amiga de Samuel publicou uma mensagem no Twitter, que viralizou e deu origem à onda de protestos. “O mataram por sua orientação sexual”, escreveu ela.

Em seguida, outros relatos de ataques contra pessoas LGBT na Espanha foram lembrados nas redes sociais e nos protestos, que reuniram milhares de pessoas. Partidos políticos e autoridades de governo também se pronunciaram sobre o caso e deram apoio aos ativistas. María Jesús Montero, porta-voz do governo da Espanha e ministra da Fazenda, deu apoio aos protestos.

“É muito importante que se torne visível o rechaço social a estas atitudes [de homofobia], porque assim poderemos combatê-las e fazer com que as pessoas deixem de se sentir impunes”, disse.

Em entrevista à TV espanhola, Maxsoud, pai de Samuel, pediu aos manifestantes que deixassem de lado as bandeiras políticas e que os ativistas fizessem doações.

“Que cada jovem, mãe, pai, passe em um supermercado e compre um pacote de arroz, um quilo de sal, de açúcar, e coloque em uma caixa da Cruz Vermelha, para ajudar quem está em necessidade. Isso nos alegraria. Tenho fé que meu filho também ficaria contente”, disse.

O pai também disse que seu filho não se metia em brigas, não costumava chegar bêbado em casa ou usar drogas, e que eles nunca haviam conversado sobre a orientação homoafetiva dele.

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