Macron vence Le Pen na França e volta a barrar ultradireita no país
Quinze minutos depois da divulgação da projeção, Le Pen admitiu a derrota em discurso a apoiadores
O presidente Emmanuel Macron, 44, deve ser reeleito, neste domingo (24), para mais cinco anos como presidente da França. É o que indicam as projeções divulgadas logo após o fechamento das urnas, às 20h, no horário local (15h de Brasília). De acordo com o instituto Ipsos, Macron obteve 58,2% dos votos, à frente de Marine Le Pen, 53, com 41,8%.
Os números são estimativas calculadas a partir dos resultados das seções eleitorais que encerraram a votação às 19h -nas grandes cidades, o voto continuou por mais uma hora.
O resultado final deve ser contabilizado ainda neste domingo. Quinze minutos depois da divulgação da projeção, porém, Le Pen admitiu a derrota em discurso a apoiadores. A última pesquisa divulgada antes da decisão, na sexta (22), mostrava Macron com 57% das intenções de voto, contra 43% da rival.
Se confirmada a vitória, o presidente de centro-direita se tornará o quarto mandatário reeleito na Quinta República, como é chamado na França o período após 1958. O feito não era alcançado havia 20 anos, quando Jacques Chirac venceu o pai de Marine, Jean-Marie Le Pen.
Pouco após a fala de Le Pen neste domingo, líderes como Charles Michel (presidente do Conselho Europeu), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia), Mark Rutte e Alexander de Croo (premiês de Holanda e Bélgica) cumprimentaram o presidente reeleito. Os líderes da Alemanha, Olaf Scholz, e do Reino Unido, Boris Johnson, enviaram mensagens na sequência.
Eleito em 2017 como uma lufada de centrismo na polarizada sociedade francesa, Macron continuará como chefe de Estado da sétima maior economia do mundo e a segunda da União Europeia, bloco do qual é um dos países fundadores. Com 67 milhões de pessoas, a França é o maior país da UE em território. É ainda um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com poder de veto.
A posse para o novo mandato deve acontecer até o dia 13 de maio.
A disputa foi uma repetição do segundo turno de 2017, mas marcada por uma diferença bem menor entre os dois candidatos. Cinco anos atrás, Macron obteve 20,7 milhões de votos e venceu por 66,1% a 33,9%. Desta vez, o resultado de Le Pen é o melhor da história para um candidato da ultradireita, que tenta chegar ao poder desde 1974, quando seu pai disputou a Presidência pela primeira vez.
Le Pen foi a primeira a votar neste domingo, por volta das 11h (hora local), em Hénin-Beaumont, no norte do país. Cerca de duas horas depois, Macron, acompanhado da mulher, Brigitte, compareceu à sua seção em Le Touquet, também no norte.
Projeções dos institutos Ipsos e Ifop (Instituto Francês de Opinião Pública), pouco mais de uma hora antes do encerramento da votação, indicavam 28% de abstenção, abaixo apenas do recorde de 1969 (31,3%), na disputa entre Georges Pompidou e Alain Poher. Segundo o balanço divulgado às 17h pela autoridade eleitoral, a taxa de comparecimento era de 63,23%, dois pontos abaixo do que a registrada no segundo turno de cinco anos atrás no mesmo horário.
O voto não é obrigatório na França.
Diferentemente de 2017, quando concorria a um cargo pela primeira vez, por um partido lançado havia apenas um ano, A República em Marcha, Macron agora enfrentou nas urnas a avaliação de seu primeiro mandato por uma população em parte insatisfeita com o aumento do custo de vida, diante de uma inflação anual de 5,1%, registrada em março -há um ano, o índice era de 1,6%.
O tema, inclusive, ocupou grande espaço no debate eleitoral e foi uma das principais bandeiras de sua adversária, que apresentou promessas como a redução de impostos, de 20% para 5,5%, sobre os preços da eletricidade e dos combustíveis. A estratégia, aliada a uma campanha que percorreu o interior do país e as periferias urbanas, contribuiu para que Le Pen conquistasse resultados expressivos nos dois turnos -no primeiro, ela ficou em segundo lugar, com 23,15% vos votos.
Macron, que terminou a primeira fase com 27,85%, dedicou menos tempo à campanha na etapa inicial. Envolvido nas tratativas diplomáticas que envolvem a Guerra da Ucrânia, ele só confirmou sua candidatura um dia antes do prazo final, em 3 de março, uma semana após o início do conflito.
Além dos dois, a disputa incluiu outros dez candidatos, e uma das surpresas foi a votação expressiva do terceiro colocado, o ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon, que atraiu 21,95% dos eleitores. Seu desempenho, especialmente entre os mais jovens, fez com que Macron e Le Pen ampliassem a atenção ao campo da esquerda no segundo turno, com promessas dedicadas a temas sociais e ambientais.
Na véspera da votação, aqueles que declararam ter votado em Mélenchon no primeiro turno se dividiam em relação à decisão deste domingo: 41% anunciavam voto em Macron, 21%, em Le Pen, e 38% não se manifestaram.
O ultraesquerdista em si não apoiou claramente o presidente, mas recomendou aos seus partidários que não dessem “um único voto” a Le Pen. Nos dias seguintes ao primeiro turno, pediu aos franceses que o elegessem como primeiro-ministro, votando em peso eu seu partido, França Insubmissa, nas eleições legislativas marcadas para junho -chamadas por ele de “terceiro turno” desta disputa.
Em 2017, o partido de Macron foi o mais votado para a Assembleia Nacional, e o atual premiê, Jean Castex, é seu aliado.
Considerado o presidente francês mais europeu da história recente, Macron recebeu o apoio de parte dos líderes do bloco, numa manifestação sobre assuntos domésticos considerada rara na UE. O alemão Olaf Scholz, o espanhol Pedro Sánchez e o português António Costa se mostraram, em artigo no jornal Le Monde, temerosos dos efeitos de uma vitória de Le Pen, política que sempre teve um forte discurso eurocético e de relações antigas com o presidente russo, Vladimir Putin.
Se na eleição anterior a ultradireitista defendia a saída da França do bloco, agora passou a dizer que o ideal era uma reforma “por dentro”.
Entre suas promessas mais polêmicas estavam medidas para priorizar o acesso de franceses sobre imigrantes a emprego e habitação social e o controle de mercadorias nas fronteiras, o que entraria em choque com pontos fundamentais da UE.
Macron, em sua campanha, prometeu continuar trabalhando pela soberania europeia. A expressão, cunhada por ele desde o início do mandato, significa tornar o bloco mais autônomo tanto em termos de Defesa quanto na economia.
Além disso, anunciou a intenção de acelerar a transição energética, ampliando a participação de matrizes nuclear, solar e eólica. No plano socioeconômico, defendeu a elevação da idade para aposentadoria de 62 para 65 anos, o que deve enfrentar a resistência de parte dos franceses.