Cessar-fogo fracassa novamente no Sudão, e conflitos crescem em Darfur

Ao menos 512 pessoas já foram mortas e outras 4.200 foram feridas durante embate duas facções militares do país

Folhapress Folhapress -
Conflitos no Sudão deixaram centenas de mortos e milhares de feridos. (Foto: Reprodução/ YouTube).

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ilusório cessar-fogo no Sudão, onde um conflito entre duas facções militares iniciado em 15 de abril já matou pelo menos 512 pessoas e feriu outras 4.200, foi estendido por mais 72 horas nesta quinta-feira (27), após as duas partes do conflito concordarem com a proposta.

A última trégua havia sido acertada na segunda (24), quando o Exército e o grupo paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido, na sigla em inglês) concordaram em interromper o conflito por três dias.

Até agora, o pacto abrandou, mas não interrompeu os enfrentamentos na capital Cartum e no oeste do país, em Darfur – as duas regiões onde o conflito se concentra.

No norte de Cartum, aviões militares cruzam o céu, e os combates com metralhadoras e armamento pesado continuam, segundo relataram testemunhas à agência de notícias AFP.

Já na capital de Darfur, El Geneina, a violência escalou, e saques, assassinatos e incêndios em casas foram registrados, de acordo com a ONU.

Em 2003, uma guerra civil nessa região matou 300 mil pessoas e deslocou 2,7 milhões.

O Exército aceitou a interrupção dos conflitos na quarta-feira (26), posição seguida pelas RSF nesta quinta. Ambos os lados se acusam de desrespeitar a trégua.

O atual conflito é fruto das divergências entre Fatah al-Burhan, líder sudanês e chefe do Exército, e Hemedti, como é conhecido o comandante das RSF.

Após derrubarem a ditadura de 30 anos de Omar al Bashir, os antigos aliados deram um golpe de Estado em 2021 e ocuparam os dois principais cargos de um conselho que deveria promover a transição para um governo civil e planejar a fusão das duas forças.

Ambos os planos foram inviabilizados após discordâncias, que mergulharam o Sudão no caos.

Nos últimos dias, diversos países organizaram o resgate de cidadãos e diplomatas, num dos maiores êxodos desde a retirada das forças dos EUA do Afeganistão em 2021.

Muitos estrangeiros, porém, não conseguiram deixar o país, enquanto sudaneses lutam para encontrar comida e combustível.

A agência de refugiados da ONU estima que 270 mil pessoas poderiam fugir só para o Sudão do Sul e o Chade.

Nesta quinta, a França afirmou ter retirado mais pessoas do país, incluindo britânicos, americanos, canadenses, etíopes, holandeses, italianos e suecos, e o Reino Unido resgatou 897 em oito voos.

O sírio Mohammad Al Samman foi um dos estrangeiros resgatados do país. À agência de notícias Reuters, ele expressou choque com a escalada repentina de violência.

“Não testemunhei isso na Síria. Com toda guerra e destruição na Síria, não aconteceu de repente”, disse, ao desembarcar na Jordânia.

Achraf, um sudanês de 50 anos que fugiu para o Egito, pediu aos generais que acabem com a guerra.

“Os sudaneses sofrem e não merecem isso. Essa é a guerra de vocês, não do povo sudanês”, afirmou à AFP.

A ONU, que interrompeu operações após a morte de cinco trabalhadores humanitários, disse que não pode mais prestar ajuda numa área onde 50 mil crianças sofrem de desnutrição.

O embate limitou a distribuição de alimentos num país onde um terço da população, de 46 milhões de pessoas, já dependia de auxílio. Os hospitais tampouco foram poupados.

De acordo com o Sindicato dos Médicos do Sudão, 14 centros de saúde foram bombardeados, e outros 19, esvaziados por estarem sob ataques, sem insumos e pessoal ou perto de áreas de combate.  Segundo o grupo, 60 dos 86 hospitais em zonas de conflito pararam de operar.

Em meio ao caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo a de segurança máxima de Kober, onde estavam ex-funcionários do regime deposto de Bashir.

Entre os foragidos está um membro do antigo governo procurado pelo Tribunal Penal Internacional, acusado de crimes contra a humanidade.

O próprio ex-ditador, de 79 anos, também estava na prisão, mas o Exército afirmou na quarta que ele foi transferido a um hospital militar antes do início dos combates devido à sua condição de saúde.

A data da transferência não foi divulgada.

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