Defesa de Torres descarta delação e diz que abrirá conteúdo de celular para Moraes

"Não, não existe essa possibilidade de delação. O que o Anderson vai fazer é cooperar para que se esclareça o mais breve possível os fatos que levaram aqueles odiosos atos de 8 de janeiro", disse o advogado Eumar Novacki

Folhapress Folhapress -
Anderson Torres. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
FABIO SERAPIÃO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A defesa de Anderson Torres descartou na manhã desta sexta-feira (12) a possibilidade de um acordo de colaboração premiada, mas disse que o ex-ministro irá colaborar com as investigações relatadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
“Não, não existe essa possibilidade de delação. O que o Anderson vai fazer é cooperar para que se esclareça o mais breve possível os fatos que levaram aqueles odiosos atos de 8 de janeiro”, disse o advogado Eumar Novacki em entrevista a jornalistas em seu escritório.
O defensor também foi questionado sobre as senhas do celular que Torres havia prometido e não entregou às autoridades, o que foi utilizado por Moraes para mantê-lo detido até esta quinta (11).
Segundo Novacki, a PF encaminhou um laudo que apontaria que não houve problema como as senhas e que, caso Moraes designe um perito, Torres irá abrir o conteúdo dos aparelhos para a Justiça.
“Ele apresentou as senhas, saiu na imprensa que elas estavam erradas, a história não é bem essa. Com o laudo da PF nos também respondemos o porquê houve falha técnica e o colocamos à disposição, caso o ministro determine o perito, vamos agir de boa vontade para abrir todas informações”, disse.
Questionado se prisão seria uma forma de pressionar Torres para delatar, Novacki afirmou não ver as medidas como forma da Justiça forçar um acordo em que o ex-ministro entregue o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para ele, a defesa de Torres conseguiu mostrar ao ministro que não havia mais necessidade de prisão cautelar.
Torres deixou a prisão na noite desta quinta-feira (11). Ele estava preso desde janeiro por suposta omissão nos ataques golpistas de 8 de janeiro.
Na decisão que soltou Torres, Moraes determinou medidas cautelares como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de se ausentar do Distrito Federal ou sair à noite e nos finais de semana.
Torres, que é delegado da Polícia Federal, também foi afastado do cargo. Ele terá que entregar o seu passaporte e se apresentar toda semana à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal, além de ter tido o porte de arma de fogo suspenso.
“No presente momento da investigação criminal, as razões para a manutenção da medida cautelar extrema em relação a Anderson Gustavo Torres cessaram, pois a necessária compatibilização entre a Justiça Penal e o direito de liberdade demonstra que a eficácia da prisão preventiva já alcançou sua finalidade, com a efetiva realização de novas diligências policiais, que encontravam-se pendentes”, afirmou Moraes.
Na operação da qual Torres foi alvo, em janeiro, a PF encontrou na residência dele uma minuta de decreto para Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no final do ano passado. O objetivo seria reverter o resultado da eleição em que Lula (PT) saiu vencedor. Tal medida seria inconstitucional.
O QUE PESA CONTRA ANDERSON TORRES:
Ataques golpistas de 8 de janeiro
O ex-ministro da Justiça foi preso por suposta omissão na invasão à praça dos Três Poderes, já que foi nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal após a saída de Jair Bolsonaro (PL), e viajou de férias para os EUA a um dia da invasão, sem deixar pronto um robusto plano de segurança, mesmo com a previsibilidade dos atos.
Minuta golpista
Torres também é investigado pela minuta de decreto, encontrada em sua casa, para instauração de estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), buscando apurar novamente o resultado das eleições, e averiguar  possível abuso de poder e supostas medidas ilegais adotadas pela presidência da corte eleitoral no pleito
Blitze no segundo turno das eleições.
Torres também é alvo de uma apuração envolvendo as várias blitze que ocorreram durante o segundo turno das eleições passadas. As fiscalizações, que ocorreram mesmo com ordem contrária do TSE, foram mais intensas no Nordeste, região onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha ampla vantagem em relação a Bolsonaro.

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