Equatorianos têm mochilas revistadas e segurança reforçada em eleições após atentados

País elege um novo presidente e 137 legisladores neste domingo (20)

Folhapress Folhapress -
Fernando Villavicencio momentos antes de ser assassinado (Foto: Captura/Youtube)

JÚLIA BARBON  – Um corredor formado por cerca de dez policiais recebe os eleitores numa escola em Magdalena, bairro periférico de Quito. Quem está com mochilas ou bolsas passa por uma rápida revista, enquanto do lado de dentro militares fardados acompanham a entrada de cada sala com armas longas em punho.

O Equador elege um novo presidente e 137 legisladores neste domingo (20), antecipadamente, depois que o presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições para escapar de um processo de impeachment. Um possível segundo turno acontece em 15 de outubro, caso ninguém consiga mais de 40% dos votantes ou dez pontos de diferença do segundo colocado.

A presença dos agentes nos colégios eleitorais é considerada habitual no país, mas desta vez a segurança foi reforçada após tiroteios, ameaças a políticos e o assassinato a tiros do presidenciável Fernando Villavicencio, no dia 9. Em outras cidades, os votantes passaram também por revistas corporais e detector de metais.

A maioria dos oito candidatos foi às urnas cedo, para evitar aglomerações, e votou rodeada de seguranças ou militares, dando declarações breves à imprensa local. Foi o caso, por exemplo, de Luisa González, favorita nas pesquisas, que concorre pelo partido do ex-presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017).

Um dos que optou por mais proteção foi o jornalista Christian Zurita, substituto de Villavicencio na corrida, que entrou no colégio vestindo colete à prova de balas e capacete após ter reportado neste sábado (19) uma ameaça de um perfil chamado “Cartel Jalisco N, G” por meio de um comentário nas redes sociais.

“Nas eleições passadas usei o TikTok, desta vez venho com colete à prova de balas”, disse o candidato Xavier Hervas, também usando a proteção abaixo da camisa. Apesar de todo o aparato, o clima é de tranquilidade, sem nenhum incidente registrado até o início da tarde no país, segundo a Polícia Nacional.

Houve três registros de ameaças e um pacote suspeito em diferentes províncias, mas os riscos foram “totalmente descartados”, disse o general Fausto Salinas, comandante geral da corporação. De acordo com ele, 430 pessoas foram detidas em operações desde o dia anterior, principalmente por “microtráfico”.

Além da situação da segurança, houve uma onda de reclamações nas redes sociais de equatorianos que moram no exterior e não conseguiam votar pela manhã, por um problema no “voto telemático”, sistema de votação pela internet implementado pela primeira vez no país. O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) disse que técnicos atendem cada um de forma personalizada e que todos poderão votar até fim do dia.

No centro histórico, o motorista Santiago Guanoluisa, 50, diz não ter levado mochila porque já havia escutado a recomendação nas notícias. Ele notou uma agilidade maior desta vez: “Ao entrar já dizem em que mesa você tem que votar, para que você não fique caminhando lá dentro”, afirma ele, que optou por Luisa González. “Sempre voto em candidatos de Correa, o país estava melhor seis anos atrás.”

O funcionário público Wilson Chulde, 57, também observou um aparato mais forte em Magdalena. “Sempre teve segurança, mas está mais forte. Eu me sinto seguro aqui em Quito, nas cidades da costa é mais complicado, Esmeralda, Manta, pelos atentados que estão acontecendo”, diz.

Grande parte dos 44 candidatos que pediram segurança ao Estado desde o início da campanha são dessas cidades litorâneas, onde ficam portos estratégicos ao tráfico de cocaína aos EUA, Europa e Ásia. A briga entre gangues nessas regiões provocou uma explosão da violência no Equador nos últimos dois anos.

A escalada dos atentados políticos fez o conselho eleitoral pedir um reforço dos efetivos ao presidente Guillermo Lasso nestas eleições. Desde quinta-feira (16), todos os locais de votação do país estão sendo vigiados por 53 mil agentes da Polícia Nacional e 43 mil militares, o que dá, em média, um agente para cada 135 eleitores. Policiais à paisana também circulam pelos colégios eleitorais.

“Não recebemos nenhuma informação ou alerta, mas como houve atentados envolvendo candidatos, estamos mais atentos. E também tem a orientação de manter os ambulantes longe, a 50 metros da entrada, para não haver muvuca”, conta em Magdalena o policial Xavier, que não quis dizer o sobrenome.

A metros dali, a estudante Daiana Abril, 25, dizia que, apesar de estar a poucos minutos de votar, ainda não havia se decidido. “Todos sabem que querem uma mudança, mas não sabem por onde”, afirma. Com uma campanha mais curta do que o normal e muitos candidatos novos, o nível de indecisão é alto. Metade dos equatorianos diziam estar indecisos a apenas dez dias do pleito, segundo pesquisa do Cedatos.

Daiana, porém, já sabe que vai votar “sim” no plebiscito que também acontece neste domingo, que pergunta se o governo deve parar ou não de explorar petróleo na Amazônia, numa área do Parque Nacional Yasuní. Como muitos, ela afirma que a pergunta foi mal feita e deve confundir parte do eleitorado: “O mais lógico é responder ‘não’ à exploração de petróleo”, diz.

O novo presidente e os deputados escolhidos exercerão seus mandatos por apenas um ano e meio, até maio de 2025. Se houver segundo turno, o líder do Executivo assume em 30 de novembro e os legisladores, em 26 de outubro. Os resultados começarão a ser conhecidos por volta de 19h (21h no horário de Brasília).

Há também uma expectativa de uma porcentagem significativa de votos brancos e nulos. A dona de casa Diana Clavijo, 26, por exemplo, afirma ter votado nulo “justamente pela questão da segurança”. “Porque se ganha um ou outro não quero me sentir culpada por outra crise”, afirma com seu bebê no colo.

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