“Eles xingam, batem, empurram remédio na boca dos velhos”, revela paciente de clínica clandestina em Anápolis
Em cenário que Vanderic comparou ao Hospício de Barbacena, internos foram resgatados pela DEAI nesta terça-feira (29)
Amarrados, cobertos de hematomas e subnutridos. Foram essas as condições com as quais a Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso de Anápolis (DEAI) encontrou os pacientes da clínica psiquiátrica clandestina, desarticulada nesta terça-feira (29), na zona rural da cidade.
O Portal 6 obteve acesso a vídeos chocantes de depoimentos de internos, que revelaram as situações desumanas pelas quais eram submetidos. Ao todo, 50 vítimas foram resgatadas.
Em um dos relatos, um jovem mostra a forma com a qual os funcionários do local tratavam um colega deficiente que, “em momentos de descontrole”, era amarrado na cama.
“Estão batendo nele, tá cheio de hematoma”, contou, detalhando as contusões e cortes presentes na perna do amigo.
Ainda, revelou que o colega, devido à deficiência, era confinado quase que o tempo todo a um quarto, onde dividia o espaço com todos os outros pacientes, incluindo adolescentes, idosos e dependentes químicos.
Em outro testemunho, um dos pacientes, que se apresentou como formado em tecnologia de gestão pública, afirmou estar preso no local há dois meses, devido à dependência de substâncias químicas.
Denunciando também as agressões sofridas pelos pacientes que não se submetiam às regras impostas pela administração, afirmou que a alimentação do lugar era composta basicamente de apenas arroz.
“As pessoas não tratam a gente bem aqui. A comida tem só arroz, sou diabético, pedi para informar minha mãe e eles não falam nada”, lamentou.
Nesse sentido, revelou ainda que era impedido pela equipe responsável de entrar em contato com a mãe, procedimento este que se repetia com os outros internos.
Ainda, denunciou que os idosos eram espancados e tinham que tomar medicamentos à força.
“Eles não me deixam ligar para a minha mãe […] Eles xingam, batem nos velhos, empurram remédio na boca dos velhos, jogam água, chutam [os idosos]”, contou.
“Aqui não tem café, não tem pão, leite, não tem uma fruta para a gente”, finalizou.
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Desumano
Delegado titular da DEAI e responsável pela operação, Manoel Vanderic chegou a classificar o cenário vivido a um “campo de concentração” e o comparou com o Hospício de Barbacena.
“Me lembrou do abrigo colônia em Barbacena, que registrou casos que promoveram a reforma manicomial no Brasil. Retiram da convivência humana quem não é aceito e simplesmente jogam fora. É o caso do autista encontrado lá, que foi expulso e trancado como um bicho, simplesmente porque ninguém queria”, pontuou.